poderia me alegrar com a
tristeza alheia. me entristecer com a felicidade que me
falta. me entreter com trivialidades. fuder
por ócio. forçar ocasionalidades. ser amável por
conveniência. magoar por
tédio. fletar com paraísos
artificiais. procurar resquícios de amor em rostos sem
nomes. colecionar conquistas. sofrer sorrindo, sorrir
sofrendo, continuar abrindo mais e
mais garrafas e rabiscando mais e
mais versos e, claro, o suicídio é uma
possibilidade tão exequível quanto
qualquer uma das
outras - tanto o imediato quanto o
gradual.
poderíamos tentar
fechar a velha ferida, que
cicatrizaria facilmente se
parássemos de cutuca-la.
a verdade é que não
passamos de
crianças - mimadas,
teimosas e eternamente insatisfeitas e
orgulhosas - que
se recusam a deixar fechar suas
feridas
favoritas. a verdade é que estamos
todos
perpetuamente condenados
a essa
liberdade tão
condicional, que de tanto
poder tanto
nada faz, de tanto querer tudo nada tem e de tanto pensar tanto nada
sente.
de tanto beber e vomitar, de tanto fuder e não
amar, de tanto arder e não queimar. de
tanto doer e não cicatrizar. de tanto
tudo que tanto quer, de tanto
nada que tudo é e de tanto
querer tudo que nada
tem. pois de tanto
poder tanto
nada se
faz.