quarta-feira, 28 de julho de 2010

Vir-a-ser

é implícito no ser
seguir no
constante tornar-se sem ser, na insaciabilidade de
perpetuamente desejar sem jamais se
satisfazer, na subverção de presentes
contínuos em
passados
desperdiçados, na finitude e na banalidade, na futilidade e na
constante busca utópica
pela felicidade perpétua, ilusória e
inalcançável. o ser precisa querer, mas o ser jamais quer o
que precisa. o ser quer sentido. o ser quer essência. o
ser quer plenitude.

o ser é demasiado
humano

e segue superestimando seus teres e haveres,
bem como seus comos e porquês, problemas e
soluções; perdas, amores,
doenças, heróis, vilões e paixões. o ser superestima sua própria
existência que afinal é tão

quanto tudo é: pois tudo que
foi
não mais é, e
tudo que
é,
imediatamente, já
foi.



...O ser tem
esperança
na
ventura do
porvir.

"Fiquei com vontade de ver Rita novamente e lhe dizer uma porção de coisas, e realmente fazer amor desta vez, e tranquilizar seus temores em relação aos homens. Garotas e rapazes da América têm curtido momentos realmentes tristes quando estão juntos; a artificialidade os força a se submeterem imediatamente ao sexo, sem os devidos diálogos preliminares. Nada de galanteios - mas sim um profundo diálogos de almas, pela vida que é sagrada e cada momento precioso. Ouvi os sons da locomotiva..."

On the road, Kerouac.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Poderíamos?

poderia me alegrar com a
tristeza alheia. me entristecer com a felicidade que me
falta. me entreter com trivialidades. fuder
por ócio. forçar ocasionalidades. ser amável por
conveniência. magoar por
tédio. fletar com paraísos
artificiais. procurar resquícios de amor em rostos sem
nomes. colecionar conquistas. sofrer sorrindo, sorrir
sofrendo, continuar abrindo mais e
mais garrafas e rabiscando mais e                                    
mais versos e, claro, o suicídio é uma
possibilidade tão exequível quanto
qualquer uma das
outras - tanto o imediato quanto o
gradual.

poderíamos tentar
fechar a velha ferida, que
cicatrizaria facilmente se
parássemos de cutuca-la.

a verdade é que não
passamos de
crianças - mimadas,
teimosas e eternamente insatisfeitas e
orgulhosas - que
se recusam a deixar fechar suas
feridas
favoritas. a verdade é que estamos
todos
perpetuamente condenados
a essa
liberdade tão
condicional, que de tanto
poder tanto
nada faz, de tanto querer tudo nada tem e de tanto pensar tanto nada
sente.

de tanto beber e vomitar, de tanto fuder e não 
amar, de tanto arder e não queimar. d
tanto doer e não cicatrizar. de tanto 
tudo que tanto quer, de tanto 
nada que tudo é e de tanto 
querer tudo que nada
tem. pois de tanto 
poder tanto
nada se
faz.
"E assim prosseguimos, botes contra a corrente, impelidos incessantemente para o passado."

O Grande Gatsby, F. Scott Fitzgerald

domingo, 4 de julho de 2010

Cínico

por traz de toda frieza,
afeto
de todo fato,
dúvida
de toda fortaleza,
deserto
de toda casualidade,
vontade
de todo desdém,
desejo. de todo cinismo, sarcasmo
descaso, indiferença
inospitalidade, descrença
frieza, fato, acaso, fortaleza:
saudade. gosto de ti,
cínico assim.